Por Sergio Resende | Trê Investindo com Causa
Olá, pessoal! Passando para contar um pouco da minha primeira e intensa semana de jornada.
Esta é minha 4ª visita à SEKEM e sigo impressionado com o trabalho realizado aqui. Parafraseando a expressão popular “tirar leite de pedra”, a SEKEM desenvolve Vida a partir de terrenos extremamente áridos.

Para quem ainda não conhece e está me acompanhando, a SEKEM é uma organização egípcia, inspirada em princípios da antroposofia. Formada por empresas e fazendas, uma fundação e uma universidade, a organização totaliza mais de 2 mil funcionários, com mais de 17 mil pequenos agricultores biodinâmicos associados e certificados – movimentando aproximadamente de US$400 milhões por ano (em moeda comparativa ao poder compra). Com uma visão de desenvolvimento para 200 anos nas dimensões econômicas, sociais, culturais e ambientais. Mais informações podem ser acessadas no site.
Nesta primeira semana tive a oportunidade de conhecer melhor a Universidade Heliópolis, as fazendas Minya e Wahat, no sul do Egito e a Certificação EoL – Economy of Love.
A Universidade Heliópolis tem atualmente 3 mil alunos em suas cinco faculdades: agricultura orgânica, engenharia, farmácia, administração e economia, e fisioterapia. A instituição desenvolve pesquisas, especialmente nas áreas de agricultura e farmácia. Além disso, a Universidade desenvolveu uma unidade específica, como uma incubadora, para dar suporte a novos negócios de impacto social e ambiental.


Dois pontos fundamentais na formação dos alunos merecem destaque. O primeiro é de que todos os alunos, independentemente do curso, passam por vivências de arte, cultura e autodesenvolvimento, que eles chamam de “core curriculum”. O segundo é relacionado ao direcionamento para desenvolver o conhecimento a partir da vivência e observação da realidade em campo. Existe um concreto esforço de aproximação das questões práticas da sociedade, em que as discussões em sala de aula partem das observações em campo.
Esses dois pontos tornam a formação do aluno muito diferenciada em relação às outras universidades locais e exigem uma forte adaptação do corpo docente, acostumados com a abordagem teórica da academia.
Youmna é a responsável por intercâmbios internacionais e me convidou a identificar oportunidades no Brasil para alunos de agricultura orgânica e/ou biodinâmica, assim como para aqueles de administração e economia. Se você enxerga algum lugar interessante para receber os alunos, por favor, me avise. A visita às fazendas Minya e Wahat me trouxe uma dimensão do que é plantar no deserto. Talvez fotos e vídeos tragam uma noção, mas só pisando no chão arenoso e seco, imerso numa imensidão esbranquiçada por todos os lados, e observando um campo de camomila se formando é que temos uma ideia mais clara do que é. Como disse Helmy Abouliesh, CEO e Fundador de SEKEM: “Espírito criando a partir da matéria”.

Essas duas fazendas são irmãs mais novas no grupo e podemos observar ali: a força da agricultura biodinâmica. Wahat é um projeto completo de transformação. Com uma estrutura que agrega um laboratório de análise de solos e pesquisa comparativa da agricultura biodinâmica com a agricultura convencional. Além disso, conta com um centro cultural com teatro de arena, um conjunto de prédios para a educação infantil inspirada na pedagogia Waldorf, uma fábrica que recicla cascas de palmeira para vasos de plantio, um centro de compostagem, moradia para estudantes, um centro de hospedagem para visitantes de todo o do mundo e, obviamente, estruturas operacionais de uma fazenda.


Uma parte significativa das receitas de Wahat provém da venda de crédito de carbono, que é gerado pelo intenso plantio de árvores e pela agricultura biodinâmica, que sequestra uma maior quantidade de carbono da atmosfera do que a agricultura convencional. Wahat é, simultaneamente, um núcleo de produção e pesquisa, com um pé fincado na matéria bruta e outro na elevação do ser humano.
A maior parte das propriedades rurais do Egito é formada por pequenas áreas, irrigadas por canais criados a partir do Rio Nilo, onde a prática agrícola é majoritariamente manual, com uso intensivo de fertilizantes e pesticidas. A visão da SEKEM é transformar a agricultura no Egito e, para isso, criou uma estrutura de certificação e apoio à transição – com a qual pretende converter para agricultura biodinâmica 250 mil produtores até 2028.
A Certificação EoL está estruturada nas quatro dimensões, como citadas anteriormente: econômica, social, cultural e ambiental. Além dessas dimensões, também temos cinco componentes principais: “Certification, Impactrace, Carbon Credits, Fundo e Education”. A partir disso, são oferecidos aos agricultores: suporte para a certificação dos padrões de cultivo e gestão da propriedade, um modelo de rastreabilidade (que permite ao consumidor saber de onde e como vem o produto adquirido), acesso ao mercado de crédito de carbono, financiamento de novos insumos necessários à conversão para a agricultura biodinâmica e equipamentos de produção sustentáveis, como painéis solares.

Por fim, recebem apoio e treinamento para vivência em comunidades sustentáveis e autodesenvolvimento para si e seus colaboradores. Tive a oportunidade de conversar com as pessoas responsáveis por cada um dos cinco componentes e estou bem animado com a possibilidade de fazer uma parceria entre Trê e SEKEM para apoiar o fortalecimento da nossa agricultura orgânica e biodinâmica. Aguardem notícias.

É isso, pessoal. Espero que eu tenha conseguido passar uma imagem e resumir adequadamente horas e horas de conversas e visitas.
Até já.
Sergio Resende.
Sergio Resende é cofundador da Thyme - Evolução Cultural, na qual atua como consultor de cultura organizacional e coach de executivos. É também cofundador e diretor da Trê Investindo com Causa. Há 25 anos, dedica-se a entender o ser humano em seu contexto de trabalho e a promover o desenvolvimento de indivíduos livres e organizações saudáveis. Nos primeiros meses de 2025, Sergio embarca em uma Jornada de Pesquisa internacional, em busca de inspirações para o futuro de nossa sociedade e a construção de uma Nova Economia.
Acompanhe o Sergio nessa viagem na seção Jornadas do blog da Trê.
Que experiência e referência maravilhosa!!
❤️🙏🏻